Jorge Messias no STF: O perfil técnico evangélico que divide opiniões e a confiança de Lula

Jorge Messias, um nome técnico e evangélico, é o escolhido de Lula para o STF e sua indicação gera expectativas e debates

A nomeação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) representa mais um movimento estratégico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no tabuleiro político e jurídico do país. Aos 45 anos, o atual Advogado-Geral da União, figura de confiança do governo e com trânsito nos bastidores de Brasília, torna-se o terceiro indicado de Lula para o cargo durante seu mandato atual. Contudo, a decisão final sobre sua permanência no STF dependerá da aprovação do Senado Federal, após a obrigatória sabatina na Comissão de Constituição e Justiça.

A escolha de Messias, que ainda precisa passar pelo crivo do Senado, coloca em evidência um perfil que combina atuação técnica com uma fé evangélica declarada, além de uma proximidade histórica com o presidente Lula. Essa conjunção de fatores tem gerado tanto apoio quanto questionamentos, especialmente em um momento de polarização política e religiosa no Brasil.

Com uma carreira pautada pela disciplina e especialização jurídica, Jorge Messias construiu sua reputação ao longo de anos de serviço público. Sua trajetória inclui passagens por órgãos importantes da administração federal, o que o credencia para a alta corte. A partir de agora, sua vida pública e profissional será analisada sob os holofotes do Congresso Nacional.

Conforme informação divulgada pela Folha de S.Paulo, Messias é formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor pela Universidade de Brasília (UnB). Sua carreira como procurador da Fazenda Nacional iniciou-se em 2007, e desde então, ocupou posições de destaque em diversos ministérios, incluindo a subchefia para assuntos jurídicos da Casa Civil durante o governo Dilma Rousseff.

A ascensão de “Bessias” e a defesa institucional do governo

O nome de Jorge Messias ganhou notoriedade nacional em 2016, após uma ligação telefônica grampeada entre Dilma Rousseff e Lula, no contexto da Operação Lava Jato. Essa escuta, que o apelidou de “Bessias”, o transformou em um símbolo de lealdade dentro do Partido dos Trabalhadores (PT), mas também o expôs a desgastes políticos. Ao retornar ao Planalto em 2023, Lula confiou a Messias a liderança da Advocacia-Geral da União (AGU).

Na AGU, Jorge Messias teve um papel crucial na defesa das instituições e do governo Lula. Ele esteve à frente de ações importantes, como as que visavam responsabilizar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, e também combateu a disseminação de desinformação. Além disso, coordenou complexos litígios com impacto financeiro bilionário, abordando temas como precatórios, a revisão da vida toda e a correção do FGTS.

Um jurista técnico com críticas ao Judiciário e forte ligação evangélica

Apesar de seu alinhamento político, Jorge Messias se define pela sua atuação técnica e pela busca por um Judiciário equilibrado. Em sua tese de doutorado, defendida na UnB, ele critica o que considera excessos do Judiciário durante os casos do Mensalão e da Lava Jato, apontando um “conservadorismo” e “partidarização” que, segundo ele, marcaram o tribunal em períodos passados. Messias defende que a judicialização, embora parte essencial da institucionalidade pós-1988, deve ser um instrumento para a implementação de políticas públicas, e não um palco para disputas político-partidárias.

Outro aspecto de destaque em seu perfil é a sua forte inserção no universo evangélico. Messias, que é membro de uma igreja batista desde a infância e frequenta cultos semanalmente, tem boa receptividade entre parlamentares evangélicos. Essa conexão religiosa, segundo a Folha de S.Paulo, lhe garante um canal de diálogo com um segmento importante da sociedade brasileira, embora alguns setores mais alinhados a outras vertentes políticas considerem sua indicação mais simbólica do que representativa do grupo.

Um futuro no STF até 2055 e a herança de Barroso

Com a possibilidade de permanecer no Supremo Tribunal Federal até os 75 anos, Jorge Messias poderá atuar na corte até o ano de 2055. Caso sua indicação seja confirmada pelo Senado, ele herdará a relatoria de aproximadamente 900 processos que estavam sob responsabilidade do ministro Luís Roberto Barroso, que se aposentará em breve. Essa vasta quantidade de casos exigirá do novo ministro um rápido e profundo trabalho de análise e decisão.

Apesar de sua natureza discreta, casado, pai de dois filhos e torcedor do Sport, Jorge Messias agora se encontra no centro de um intenso debate político, institucional e social. Sua sabatina no Senado promete ser um dos momentos cruciais para a definição do futuro da composição do STF e para a avaliação de seu perfil técnico e suas convicções perante a nação.

Leia mais

PUBLICIDADE