Investigação sobre a morte do delegado Ruy Ferraz Fontes em Praia Grande aponta para um novo e complexo cenário, com a descoberta de um rascunho de denúncia sobre fraudes em licitações e lavagem de dinheiro na prefeitura.
O delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes, executado a tiros de fuzil em 15 de setembro em Praia Grande, litoral de São Paulo, possuía em seu notebook um documento preliminar que detalhava suspeitas de irregularidades na prefeitura da cidade. O material, ainda em fase de rascunho, indicava possível envolvimento de servidores municipais e empresários em fraudes em licitações e lavagem de dinheiro.
A descoberta desse rascunho levou a Polícia Civil a abrir um segundo inquérito, desta vez focado em apurar a atuação funcional de Ruy Ferraz na prefeitura e sua possível conexão com o homicídio. Essa nova linha de investigação corre em paralelo à apuração do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que denunciou oito pessoas ligadas ao PCC pela execução, apontando retaliação à atuação do delegado contra o crime organizado.
O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) considerou essencial investigar se as atividades de Ruy Ferraz na administração municipal teriam relação com sua morte. Conforme o relatório final do inquérito, concluído em 13 de novembro, medidas cautelares foram determinadas contra alguns servidores municipais, mesmo com a forte indicação de participação do PCC no crime. A apuração busca “verificar a existência ou não de vinculação na morte de Ruy Ferraz com sua atuação na prefeitura”, segundo o DHPP.
Aprofundamento em Processos Administrativos Sensíveis
A investigação sobre as atividades do delegado na prefeitura se baseia não apenas no rascunho encontrado, mas também em depoimentos de funcionários municipais. As testemunhas relataram que Ruy Ferraz atuava de forma incisiva em setores que lidavam com processos administrativos de alta sensibilidade. Parte dos depoentes afirmou ter conversado com ele sobre rotinas internas e procedimentos licitatórios.
Um engenheiro da prefeitura, identificado como Rodrigo Orlando, declarou aos investigadores ter discutido “determinadas circunstâncias de licitações que estavam em trâmite na prefeitura”. Outros funcionários das áreas de planejamento, tecnologia e integração de informações também confirmaram que o ex-delegado-geral havia se aprofundado em fluxos estratégicos para o controle de gastos públicos.
Um parecer do DHPP sugere que Ruy Ferraz pode ter “embaraçado situações recentes durante sua atuação na administração municipal, o que possa ter acarretado nesta ação praticada com extrema violência”, indicando uma possível interferência direta em interesses suspeitos dentro do governo local. Por conta disso, um inquérito específico foi aberto no Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC).
Denúncia do MPSP Aponta Mando do PCC
Em outra frente, o Ministério Público de São Paulo (MPSP), através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), denunciou oito pessoas pelo assassinato do delegado. A denúncia, divulgada em 21 de novembro, imputa aos suspeitos crimes como homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, favorecimento pessoal e organização criminosa armada.
O MPSP alega que a complexa logística do crime, incluindo roubo de veículos, aquisição de armas e definição de locais de apoio, demonstra uma ação orquestrada pelo crime organizado. Os promotores apontam que o mando do crime seria do PCC, como forma de retaliação à atuação de Ruy Ferraz contra o grupo entre 2019 e 2022, período em que ele chefiava a Polícia Civil. A denúncia menciona a “Sintonia dos 14” em 2019 e infere que a ordem da facção criminosa foi assumida pelos investigados desde março de 2025.
Servidores Municipais sob Investigação
No âmbito da investigação sobre as fraudes na prefeitura, cinco servidores municipais foram alvos de mandados de busca e apreensão em outubro. Entre eles está Sandro Rogerio Pardini, subsecretário de Gestão e Tecnologia. A abertura deste segundo inquérito pelo DEIC visa apurar especificamente possíveis fraudes em licitação e lavagem de dinheiro originadas na administração municipal, buscando esclarecer a fundo a atuação do delegado Ruy Ferraz na cidade.
